Militares tinham acesso a dados sigilosos e teriam compartilhado segredos em troca de dinheiro, entre 2021 e 2023; esta foi a terceira vez neste ano em que integrantes das Forças Armadas são presos e acusados de espionagem
Dois militares da Marinha dos Estados Unidos foram acusados e presos por supostamente enviarem informações sensíveis a oficiais de inteligência chineses.
Um dos marinheiros, Jinchao Wei, foi preso na quarta-feira (2) ao chegar para trabalhar na Base Naval de San Diego, de acordo com um comunicado divulgado na quinta-feira (3) pela procuradoria do Southern District da Califórnia. A base é uma das maiores instalações da Marinha no Pacífico.
O outro marinheiro preso, o suboficial Wenheng Zhao, trabalhou na Base Naval Ventura County em Port Hueneme, na Califórnia.
A acusação contra Wei foi revelada nesta quinta-feira (03) e está separada das acusações contra Zhao.
China aumenta apoio à Rússia na Guerra da Ucrânia
“As acusações demonstram a determinação (da República Popular da China) de obter informações que são críticas para a nossa defesa nacional, usando qualquer meio, para que possam ser usadas em seu benefício”, disse Matt Olson, procurador-geral adjunto do Departamento de Justiça para a segurança nacional, em uma coletiva de imprensa na quinta-feira.
Os procuradores dizem que Wei, que serviu como companheiro de maquinista no USS Essex, supostamente teve uma relação do tipo “manipulador/agente” com um oficial de inteligência chinês a partir de fevereiro de 2022. Companheiros de maquinista são uma classe de engenheiros, responsáveis por operar, manter e reparar equipamentos de navios.
Como parte desse suposto acordo, Wei enviou fotos e vídeos do Essex e de outras embarcações da Marinha para o oficial chinês, segundo a acusação. Ele também teria enviado dezenas de manuais técnicos e mecânicos relativos aos projetos dos navios e sistemas de armas. Em troca, Wei teria recebido milhares de dólares.
A acusação indica que Wei recebeu a cidadania dos EUA durante este período que está sob investigação. O oficial de inteligência chinês teria parabenizado Wei por ter recebido a cidadania em 18 de maio de 2022.
Grande parte da informação que Wei teria enviado ao oficial chinês estava armazenada em sistemas de computador da Marinha de acesso restrito que Wei foi capaz de acessar porque tinha uma autorização de segurança.
Blinken: Não há ilusões sobre redução na tensão com a China| CNN 360º
Já a acusação contra Zhao alega que, entre agosto de 2021 e maio de 2023, ele forneceu informações militares sensíveis dos EUA (incluindo planos operacionais para um grande exercício militar no Indo-Pacífico) a uma pessoa que se apresenta como um pesquisador de economia marítima. Essa pessoa era, na verdade um oficial de inteligência chinês, diz a acusação.
Zhao, que era responsável pela instalação, reparação e manutenção de equipamentos elétricos em unidades militares dos EUA, também tinha uma autorização de segurança, segundo os promotores, e supostamente teria tirado fotos de telas de computador que exibiam “ordens operacionais de exercícios de treinamento militar” e as fornecido ao oficial.
Ele também teria transmitido fotos de planos e diagramas de um sistema de radar dos EUA estacionado em uma base militar em Okinawa, no Japão, de acordo com os promotores. Esses documentos eram marcados como “não sigilosos/apenas para uso oficial”, mas os procuradores dizem que, como parte de suas funções oficiais, Zhao “era obrigado a proteger informações não sigilosas controladas e informações relacionadas à segurança operacional da Marinha”. Ele também tinha o dever de relatar incidentes suspeitos.
Em troca, Zhao teria recebido cerca de US$ 15 mil (cerca de R$ 73 mil) do oficial, alegam os procuradores.
“O caso contra o senhor Zhao é parte de uma estratégia nacional maior para combater os esforços criminais de atores estatais nacionais para roubar informações militares sensíveis de nossa nação”, declarou Martin Estrada, procurador para o Central District da Califórnia, durante a coletiva de imprensa de quinta-feira. “O esquema alegado aqui é apenas mais um exemplo da campanha em curso e descarada da República Popular da China para atingir servidores dos EUA com acesso a segredos militares sensíveis”.
Em conjunto, as prisões marcam pelo menos a terceira vez neste ano em que os militares americanos são presos e acusados de espionagem. Outro militar norte-americano com uma autorização de segurança e acesso a informações sigilosas de defesa nacional, Jack Teixeira, foi acusado de supostamente vazar sigilos que ele obteve como parte de seu trabalho na Guarda Nacional Aérea de Massachusetts para a plataforma de mídia social Discord.
As prisões também vêm em meio a preocupações crescentes por parte dos militares dos EUA de que a China está fazendo avanços estratégicos contra os EUA – particularmente a Marinha chinesa, que agora ultrapassou o tamanho da frota da Marinha dos EUA.
“Confiamos aos membros de nossas forças militares uma enorme responsabilidade e grande fé”, disse o promotor Randy Grossman do Southern District da Califórnia. “A segurança de nossa nação está nas mãos deles. Quando um soldado ou marinheiro prefere o dinheiro ao país e entrega informações de defesa nacional em um ato final de traição, os Estados Unidos investigarão e processarão agressivamente esse indivíduo”.
O general de brigada Patrick Ryder se recusou a responder sobre o caso durante a coletiva, dizendo aos repórteres que “acho que temos políticas e procedimentos claros em vigor quando se trata de proteger e proteger informações confidenciais”.
“A questão maior da espionagem ou a falta de tratamento adequado de informações confidenciais é algo tão antigo quanto a própria guerra”, continuou Ryder. “Dito isso, mais uma vez, temos um conjunto robusto de políticas e procedimentos que são inerentes ao serviço militar. Fizemos uma análise muito completa sobre os passos que podem ser dados para reforçar ainda mais os controles e estamos trabalhando nesse processo agora”.