Há seis anos, o musicista Hegell Borges de Oliveira, 34, decidiu se aventurar por ruas de diversas cidades para se descobrir como um artista.
Em sua jornada tocando pela América do Sul, os caminhos trilhados por ele o trouxeram para Campo Grande. Sem data exata para partir, Hegell entretém as manhãs do público que passa pela Avenida Mato Grosso e Avenida Conssul Assaf Trad, com seu violino.
Desde 2018 viajando e se apresentando em locais públicos, o artista já passou pelo Paraguai, Argentina, Bolívia e Peru.
Os anos de estrada lhe ensinaram muito sobre altruísmo e inconstância, conforme explica. “Esse conceito de altruísmo é você cooperar com o seu semelhante, e a inconstância é porque você não vai fazer planos ou vai fazer planos à medida dos dias em que você está vivendo”.
O artista começou a trajetória no norte do Brasil, seguiu para o sul e agora passa por Campo Grande. Aqui, ele diz que encontrou o público mais acolhedor e caloroso, dentre todas as capitais que visitou. “Aqui o público aceita mais e aprecia mais. Eu conheço muitas regiões do país, e essa expressão e a aceitação popular tem sido assim mais calorosa aqui em Campo Grande”.
Hegell relata que suas maiores inspirações são Mozart e Beethoven, mas seu repertório também inclui músicas populares da cultura brasileira, eletrohits e temas de grandes sucessos do cinema, citando de exemplo a trilha de Titanic.
“A música traz paz, tanto para o ouvinte, quanto para o performista. A minha proposta principal é essa, levar a arte erudita da sala de concerto pra rua. Tirar das quatro paredes, o que há séculos atrás era reservado. A arte surgiu assim, com os artistas de rua, ela só foi levada para ambientes mais reservados, diz Hegell.”
Quando ingressou na faculdade de música, pela UFG (Universidade Federal de Goiás), a princípio queria tocar em salas de concertos e recitais, mas conta que a rua se tornou para ele “um palco aberto, um palco no qual a arte fluiu mais”. Inicialmente, ele ministrava aulas particulares de violão e teoria musical. “Eu tocava pouco, estudava mais a teoria. Essa ausência de experiência com instrumentos me levava à frustração como artista”.
A decisão de se tornar um artista de rua e viajar pelo país carregando seu paletó e seu violino – que, segundo o artista, são seus dois itens indispensáveis – surgiu por também querer se desprender do meio acadêmico. O pontapé inicial foi após trabalhar com um produtor musical que o incentivou a se apresentar como artista de rua.
Eu tinha muitos preconceitos na época e eu não sabia como eu ia fazer isso. Aí, quando eu morei no Paraná, eu olhava muitos malabares e aí eu comecei a recordar trechos da história de música no qual eu estudava. E isso começou a fazer sentido, começou a juntar uma coisa com a outra. Logo, eu me perguntei, por que não? Eu poderia fazer isso com um instrumento, mas com um instrumento que seja expressivo”, explica.
Para iniciar sua trajetória, Hegell conta que decidiu sair da casa da mãe e começar a planejar suas aventuras. Ele explica que deixar o convívio familiar foi um ponto essencial para que pudesse se redescobrir sozinho. “Esses são os conceitos-chave da minha arte: a busca pela essência do ser. A apresentação de rua fez com que eu ampliasse a figura do artista, a visibilidade da figura do artista”, finaliza.