Neste ano a Black Friday trouxe um movimento interessante e revelador sobre o comportamento do brasileiro diante de um cenário econômico apertado e de restrições de crédito. Em vez de buscar apenas descontos e renovar equipamentos pessoais com frequência, muitos consumidores optaram por direcionar gastos para entretenimento doméstico e produtos de lazer. Essa transição indica que prioridade deixou de ser simplesmente aquisição de bens tecnológicos emergentes e passou a ser investimento em experiências e conforto dentro de casa. A escolha por itens que ofereçam prazer imediato ou uso familiar demonstra uma reavaliação de valores diante da instabilidade financeira.
O consumo durante a Black Friday 2025 evidenciou que eletrônicos tradicionais como smartphones perderam terreno, enquanto games, TVs e equipamentos voltados ao entretenimento registraram crescimento significativo. Essa preferência sugere que o brasileiro, mesmo diante de restrições orçamentárias, não abriu mão de melhorar a qualidade do tempo dedicado ao lazer, especialmente em casa. A adoção dessa postura revela também uma consciência maior sobre o custo-benefício e sobre a utilidade real dos produtos no dia a dia. A busca agora recai sobre o que traz valor duradouro e prazer prolongado, em vez de impulso e obsolescência rápida.
Com essa nova dinâmica de consumo, as empresas do varejo precisaram se ajustar para atender a um perfil mais exigente, que prioriza qualidade e experiência. A estratégia deixou de ser apenas reduzir preços e passou a contemplar ofertas de produtos premium em categorias de lazer e entretenimento. Marcas passaram a valorizar diferenciais como desempenho, durabilidade e capacidade de proporcionar experiências superiores, ao invés de competir apenas por preço. Essa mudança altera a lógica tradicional da Black Friday, substituindo o consumo desenfreado pela curadoria e seleção consciente de compras.
O comportamento do consumidor também aponta para um consciente planejamento financeiro. A decisão de adiar a compra de dispositivos essenciais em favor de produtos de entretenimento mostra que há sobriedade na hora de avaliar o que realmente importa. Para muitos, vale mais investir em algo que proporcione diversão ou conforto em casa do que em gadgets cuja utilidade imediata pode ser questionável. As compras são realizadas com mais reflexão, com atenção ao valor real do produto e à sua utilidade a longo prazo. Esse perfil de comprador parece estar redefinindo prioridades de consumo no Brasil contemporâneo.
Essa tendência influencia diretamente a forma como os varejistas e o comércio digital estruturam suas ofertas e estoque. O foco se desloca para categorias de lazer, entretenimento e bens duráveis de valor agregado, menos suscetíveis à obsolescência rápida. Ofertas mais cuidadosas, com bom custo-benefício e ênfase em experiência do usuário ganham destaque, ampliando a relação de confiança entre consumidor e marca. Esse novo contexto exige adaptação de toda a cadeia: produção, marketing, logística e atendimento.
Além disso, a mudança no perfil de consumo revela também um aspecto cultural: a valorização do tempo livre e da convivência familiar ou social dentro de casa. Com jogos, TVs e itens de lazer em evidência, há um movimento de reconstrução da relação entre diversão e lar, especialmente em tempos economicamente desafiadores. A casa ressurge como espaço de convivência e entretenimento, e os gastos refletem essa nova prioridade. Esse comportamento pode moldar tendências futuras de consumo e influenciar fortemente setores de cultura, tecnologia e lazer.
Para o futuro do varejo, esse cenário sugere que datas como Black Friday continuarão sendo importantes, mas talvez com um formato diferente: menos focadas em volume de vendas e mais em curadoria de ofertas, seleção de produtos de maior valor agregado e atendimento a desejos de estilo de vida. A competição deixa de ser apenas por preço e passa a ser por relevância, utilidade, experiência e adequação às necessidades reais do consumidor. Essa adaptação pode fortalecer a relação entre consumidores e marcas, gerando fidelidade e confiança.
Essa transição de comportamento de compra evidencia que o consumidor brasileiro está mais consciente, mais seletivo e mais atento ao que realmente faz diferença no dia a dia. Compras deixam de ser impulsivas e ganham significado, voltado a conforto, lazer e bem‑estar. Com isso, a Black Friday 2025 se destaca não apenas como evento de descontos, mas como reflexo de mudanças sociais e econômicas mais amplas. Essa nova fase do consumo traz oportunidades para quem entende esse novo perfil e consegue oferecer valor real de forma clara e estratégica.
Autor: Polina Kuznetsov
